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O Brasil para os Velhos

Envelhecer é uma coisa nova, no Brasil. E não é fácil, para muitos. A expectativa de vida por aqui, nos idos de 1960, era de 48 anos. Nesta época, a chance do brasileiro morrer antes de envelhecer era altíssima e os idosos eram exceção. O Brasil era um país de jovens, o país do futuro. Em 1980, a expectativa de vida subiu para 62,5 anos e, a partir de então, começou a ser gestada uma população idosa, considerando-se a marca de 60 anos como o divisor entre a juventude e a velhice.

Em 2010, o censo do IBGE já indicou 73,7 anos como sendo a expectativa de vida e agora se diz que este valor aumenta em 4 meses, a cada ano. Sendo assim, é muito provável que, em 2020, a expectativa de vida esteja no patamar de 80 anos e já seja possível contabilizar cerca de 30 milhões de pessoas com mais de 60 anos, numa população total prevista para 212 milhões. Além de viver mais, os brasileiros estão tendo menos filhos. O número de filhos médios por mulher diminuiu de 6,3 descendentes para 1,9 no período entre 1960 e 2010. O reflexo dessa tendência é um envelhecimento da população.

Muita estatística para dizer que marchamos a passos céleres para uma situação em que um percentual expressivo da população brasileira será de idosos, num país que sabe pouco sobre o envelhecer e suas demandas. A parcela da população entre 18 e 60 anos terá, certamente, entre seus familiares e amigos alguém requerendo os cuidados típicos da condição de idade avançada.

Uma característica demográfica que apresenta desafios completamente novos.

Acrescido a isto há o fato de termos envelhecido antes de ter solidez econômica. A velhice custa mais caro do que a juventude.

No contexto individual, só começamos realmente a pensar no tema da velhice quando ela nos chega através de nossos pais, cobrando uma reflexão sobre todas as mudanças que ela passa a impor. Em algum momento, nos damos conta de algo mudou e que a vida está diferente para eles e para nós. A partir daí, parece que para onde olhamos vemos idosos. E aí, o tipo de perguntas que passam a frequentar nossas preocupações são: eles moram sozinhos? como resolvem a parte prática de suas vidas? cuidam de si mesmos? dão trabalho a seus filhos? Ato contínuo, somos vítimas do efeito espelho: somos os próximos a envelhecer. Vamos tendo consciência de como sabemos pouco sobre a velhice e de como estamos despreparados para enfrentá-la nos outros e, também, quando chegar a nossa vez.

No contexto coletivo, o fato é que população idosa cresce e vai demandar providências que talvez ainda não tenham sido desenhadas pelo poder público, significando que a sociedade, em geral, e as famílias, em particular, terão papel importante na geração de abordagens para este novo cenário. São poucas as políticas públicas efetivas para se garantir a qualidade de vida das pessoas a partir de 60 anos de idade, hoje e no futuro próximo.

Vivemos num país que assimilou o culto à juventude. Só interessa o que a ela está associado e a ela se atribui a chave para uma vida exitosa e feliz. Não há lugar para a velhice e sua falta de glamour. No entanto, a velhice agora passa a ser nossa realidade demográfica e quanto mais a negarmos mais pesada ela será.

Enquanto os países da Europa e dos EUA já vem se defrontando com esta situação há muito mais tempo e se preparando para atender às condições necessárias, aqui mal começamos a nos debruçar sobre a questão.

Esta é uma situação inteiramente nova para um país que sempre foi jovem.

É hora de compartilhar conhecimento e aprender com a experiência de quem já se ocupa de cuidar ou apoiar idosos, sejam seus progenitores ou amigos.

Entender a velhice e suas demandas faz parte da preparação necessária para se construir uma sociedade apta a proporcionar condições de vida dignas para o idoso, fazendo o dever de casa para quando chegar a nossa vez.

Há questões fundamentais para se refletir:

  • Como conseguir um interesse coletivo mais amplo por pensar e trazer soluções para o tema do envelhecimento, no Brasil dos dias de hoje?
  • Como formar lideranças para as transformações e realizadores das mudanças necessárias?
  • Como criar políticas públicas garantidoras das condições para um envelhecimento ativo?
  • Como educar as pessoas para cada um fazer a sua parte, tendo um estilo de vida saudável com vistas a não sobrecarregar as futuras gerações?

São muitas perguntas por responder e é preciso buscar as soluções. Conhecer a velhice mundo afora é uma forma de começar.

Agradecimentos

A Nenem, que me proporcionou a oportunidade de conhecer a velhice antes de envelhecer.

A Maristela Velloso, pela paciência de me ouvir ainda sendo jovem e por me acompanhar na aventura de sonhar uma velhice melhor.

A Ina Wolcker, que me encorajou a dar ares de pesquisa a esta viagem que acabou se tornando apenas um jeito de observar a velhice mundo afora.

A Alexandre, Bruna e Priscila que ficam na torcida para que eu entre feliz neste mundo prateado.